terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Itinerário Quaresmal - I Semana

Caros Amigos!
Iniciamos mais uma caminhada quaresmal. Este tempo litúrgico que nos prepara para a Páscoa faz-nos diversos convites. Convida-nos à oração e ao silêncio interior. À comunhão com o outro – destinatário da nossa partilha e renúncia. Convida-nos a centrar a nossa vida em Deus no meio dos desertos pessoais e dos desafios do quotidiano. Tais convites serão os apelos que a cada semana brotarão da Palavra de Deus.
Para que a tua/nossa quaresma seja carregada de fecundidade e proporcione mais vida interior, propomos-te este itinerário. A cada semana encontrarás um pequeno roteiro que poderás aproveitar para o teu percurso pessoal ou comunitário.
A Palavra dominical far-se-á convite dentro de ti. Escuta os seus apelos. Deixa que ecoe dentro do teu coração e transforme o teu caminhar. Partilha com alguém este itinerário. Faz dele caminho de encontro com a tua família, o teu grupo de amigos, ou o grupo de jovens (ou outro) de que fazes parte.
Votos de uma quaresma onde o silêncio interior te ajude a centrar a tua vida em Deus.

Primeira Semana: Chamados ao deserto

Leituras do 1º Domingo da Quaresma: Dt 26, 4-10; Rm 10, 8-13; Lc 4, 1-13
1. O povo de Deus foi chamado ao deserto. Na aridez do caminhar foi moldando o seu coração. Purificando as suas infidelidades. Deixando-se conduzir pela mão providente de Deus da Aliança. O deserto foi caminho e condição. Caminho para encontrar-se como povo e para chegar ao lugar da Promessa. Condição de caminhar entre desafios e o sonho de ver concretizada a alegria de chegar.
Jesus foi chamado ao deserto. O Espírito conduziu-o ao deserto do discernimento. O lugar onde se tomam as decisões e os confrontos revelam a solidez do acreditar. No coração do silêncio foi tentado. Tentado pelo próprio silêncio. A aridez do deserto quis transformar-se num mar de possibilidades. A secura e a fome prometeram a abundância e o sucesso. O projecto do Reino foi desafiado pela vastidão de um deserto encarcerado dentro de um coração procurando caminhos. E o deserto de Jesus tornou-se condição. E o projecto do Reino encheu de vida o seu e todos os desertos.

2. Escuta o Evangelho que a liturgia te propõe: Lc 4, 1-13.
Naquele tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-se das margens do rio Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu fome. O Diabo disse-lhe: “Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão”. Jesus respondeu-lhe: “Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem’”. O Diabo levou-o a um lugar alto e mostrou-lhe num instante todos os reinos da terra e disse-lhe: “Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim tudo será Teu”. Jesus respondeu-lhe: “Está escrito: ‘Ao Senhor Teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’”. Então o Diabo levou-O a Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do Templo e disse-lhe: “Se és Filho de Deus, atira-Te daqui para baixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito para que Te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão para que não tropeces em alguma pedra’”. Jesus respondeu-lhe: “Está mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’”. Então o Diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.

Chamados ao Deserto

Também nós somos chamados ao deserto. A Quaresma apropria-se deste simbolismo para nos propor um caminho de encontro e de aceitação dos nossos desertos. No silêncio ou no confronto rotineiro dos dias o deserto descobre-nos. Somos descobertos pela necessidade de nos encontrarmos connosco próprios. O caminho de encontro com o mais íntimo de nós é singular. Nele se misturam afectos, desejos, temores, desafios, necessidades pessoais. E também o desejo, muitas vezes camuflado de, na busca de se encontrar, encontrar o próprio centro e nele, o Absoluto que nos habita.
A Quaresma confere um rumo ao nosso deserto. Sem um rumo, o deserto é maldição. É travessia sem fim. Aridez a perder de vista. A Quaresma abre-nos os olhos para acolher o deserto que somos e que atravessamos. Atira-nos palavras de sentido para confundir as certezas da nossa travessia. Desmascara a omnipotência de querermos caminhar sem ninguém que nos acompanhe.
Chamados ao deserto e ao silêncio. Para sermos tentados. Como Jesus, somos tentados pelo silêncio e pelo deserto. Tentados pela ganância de tudo possuir. De nada partilhar. Tentados pelo isolamento de não se entregar. Tentados pelo sucesso que mina os nossos relacionamentos e empurra para o vazio do ser. Tentados pelo desejo de afirmarmos um sentido para tudo, onde Deus não tenha lugar.
Procura nesta primeira semana de Quaresma descobrir, acolher o deserto que há em ti. No silêncio ou na azáfama do quotidiano, arrisca no deixar-se encontrar. Deixa-te possuir pelo Amor que faz nascer rios de água viva em todos os desertos.
- Que caminho pessoal e comunitário procurarei fazer ao longo desta Quaresma?

Não há flores no deserto onde tu moras
Nem a água salta por entre as pedras que pisas
Secaram as nascentes da tua vida
E o sem rumo faz-te companhia
Desde que deixaste de acreditar.

Não há flores no deserto onde tu moras
Mas é presente o deserto dentro de ti
Espaço aberto para o viço e o novo
Onde todas as fontes serão torrente

Não há flores no deserto onde tu moras
Mas é convite o deserto dentro de ti
Caminho palmilhado na esperança de chegar
À terra que és e que será nova
Quando o milagre do grão de trigo irromper.

Não há flores no deserto onde tu moras
Mas o deserto é convite, caminho e presente
Dentro de ti.
Do vinho da alegria e da fé.

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