quarta-feira, 31 de março de 2010

Itinerário - Domingo de Páscoa

A Festa da Vida

Leituras do Domingo de Páscoa: Act 10,34.37-43; Col 3,1-4; Jo 20,1-9

Caminhamos pelo deserto ao longo desta quaresma. Descobrimos que a aridez desse lugar inóspito é metáfora do próprio caminhar. Peregrinos, carregamos no mais íntimo de nós, o desafio de se deixar conduzir ao deserto pessoal do encontro consigo mesmo e com Deus e descobrir horizontes novos e oásis verdejantes.
A Palavra de Deus conduziu-nos por lugares que habitualmente o coração não ousa descobrir. Obrigou-nos a subir à montanha e contemplar a amostra daquilo que a Páscoa irá realizar em definitivo. Lançou-nos provocações e convites certeiros para que o coração se torne misericordioso, o olhar seja de compaixão, o encontro com o outro seja regado com música e dança, e o coração de Deus seja sempre lugar de repouso onde podemos descansar depois de tantos desencontros.
Nada comparado à semana maior com seus derradeiros convites ao silêncio, à redescoberta da eucaristia como lava-pés e à contemplação do mistério do sofrimento no escândalo da Cruz.
Tudo isto para que a vida brote em todos os desertos. Para que rios de água viva inundem corações feridos pelo desespero. Para que o medo de acreditar seja transformado em coragem comprometida. Para que a esperança seja mais forte do que desânimo e o sem sentido.
A vida jorra abundante mesmo que cruzes continuem erguidas ao alto. A alegria de um coração liberto vai desenhando caminhos de vitória mesmo onde a pedra do túmulo continue a ser apenas uma pedra rolada. A força do testemunho irá desafiar todas as crises porque a festa da vida instalou-se no coração do mundo.


1. Vamos escutar o Evangelho que a Liturgia nos propõe (Jo 20, 1-9)
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o discípulo predilecto de Jesus e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram».
Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro.
Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira.
Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.

2. É dia de Páscoa. A vida jorra abundante apesar das incertezas. A comunidade dos discípulos de Jesus rende-se às evidências. O Senhor está morto. O sepulcro selado e guardado. O desespero e o medo instalou-se. A dispersão acontece. A escuridão da noite parece calar qualquer lembrança daquela subida à montanha da transfiguração.
Mas eis que a vida fez explodir a pedra do sepulcro deixando-a rolada. O Senhor ressuscitou. Ninguém viu. Ninguém estava lá para escrever uma crónica cheia de detalhes. Apenas ficou o relato da experiência de encontros profundos com o coração do ressuscitado. Encontros singulares e decisivos. Transformadores. Afectivos. Que mudaram em definitivo a vida de homens e mulheres dispersos e cheios de medo. Algo de extraordinário e que só a fé consegue compor, reestruturou a partir de dentro a vida destes homens e mulheres, outrora íntimos de Jesus e que agora desbravam caminhos de testemunho.

3. Maria Madalena é uma dessas personagens. Ainda escuro desce ao sepulcro. A morte de Jesus ainda semeia desalento em seu coração. O túmulo ainda é para ela (e para o comunidade que representa) o fim de tudo. O fracasso de um projecto. Mas Jesus já não está lá. A pedra está rolada. Impõe-se uma pergunta-desabafo que brota de um coração angustiado: "Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram". Partilha esse desabafo com Pedro e outro discípulo (aquele que Jesus amava). Também eles correm ao sepulcro. Também não encontram Jesus. Apenas vêem alguns sinais. O outro discípulo"viu e acreditou".

4. Jesus ressuscitou! É saudação de alegria que o coração de cada cristão, não cansará de repetir, ao longo deste tempo pascal. Com esta saudação anunciamos que Jesus está vivo. Em nós e no mundo. Que a vida acontece nos corações e no coração da história. Que o ressuscitado confere sentido a tudo o que somos, ao que realizamos, ao que descobrimos e sentimos, ao que incansavelmente procuramos, ao que nem sempre entendemos. A vida, a nossa e o universo inteiro rejubila porque a luz venceu a escuridão da noite. O refulgir luminoso do fogo pascal incendeia o mais recôndito da alma. O sereno crepitar do círio acendido em noite de luz gloriosa jamais se apagará. Porque Jesus ressuscitou!

5. Jesus ressuscitou! A festa da vida entoa os mais belos hossanas. No deserto o grão de trigo deixou-se morrer. Para germinar abundante. Para transformar a aridez em campo onde o verde faz a vista perder-se. Para que o fruto mereça o tempo da colheita. A festa da vida faz entoar notas outrora desconhecidas.  Inimagináveis. No coração do mundo ecoa agora a sinfonia perpétua da ressurreição. E a ressurreição alimenta a fé. E faz germinar a esperança mesmo quando a terra-coração teima em não dar fruto. E ilumina os desafios da vida mesmo quando o grau de dificuldade parece torná-los intransponíveis.

6. Jesus ressuscitou! O Deus da vida chama-nos à vida e à alegria. À festa da vida, colorida, transbordante, apaixonada. Mova-nos a paixão pela vida. Transforme-nos a luz que incendeia todos os corações. Desafie-nos o fogo pascal para caminhos de compromisso em meio às crises da vida e a cenários de morte e indignidade que ensombram o nosso tempo. Acolhamos o desafio de sempre escolher a vida. Mesmo quando a morte espreita o próprio coração. Acolher a vida. Orientar o caminhar por um Amor sempre criativo. E a criatividade levará à desinstalação e ao não-egoísmo. Libertará de todos os medos. O medo de partir e de acreditar. Desinstalará o coração para que o torne solidário e luminoso. Para que o mundo que habitamos seja lugar de vida e não de morte.

7. Jesus ressuscitou! Saudação pascal deste tempo de alegria. Que ela brote como jorro transbordante de um coração carregado de esperança. Que seja expressão de uma fé viva, contagiante, comprometida. A iluminar os próprios passos. E os daqueles que connosco cruzam nos caminhos da vida.

8. Reflecte em silêncio os apelos que a Palavra te faz.

Como vives e alimentas a tua fé em Cristo ressuscitado? Que sinais de alegria e esperança a tua vida testemunha e expressa?

Partilha o teu momento de reflexão com alguém (do teu grupo, família, comunidade).


O milagre do grão de trigo

 

O milagre do grão de trigo irrompeu
O deserto encheu-se de flores e amanheceres
Um novo sol levanta-se vitorioso
Do túmulo onde a morte parecia vencer
O frágil grão lançado à terra. 

O milagre do grão de trigo irrompeu
E a noite já não cobre todos os horizontes
O desalento já não fere corações
Porque o silêncio que habitava o silêncio
Gritou hossanas ao terceiro dia.

 O milagre do grão de trigo irrompeu
E fez germinar todas as sementes
Que se deixaram morrer
E desfez os medos do acreditar
No mistério da vida que morre e ressuscita.

 O milagre do grão de trigo irrompeu
E a festa da vida mudou-se do túmulo
Para dentro de ti.


Páscoa

A liturgia deste domingo celebra a ressurreição e garante-nos que a vida em plenitude resulta de uma existência feita dom e serviço em favor dos irmãos. A ressurreição de Cristo é o exemplo concreto que confirma tudo isto.
A primeira leitura apresenta o exemplo de Cristo que “passou pelo mundo fazendo o bem” e que, por amor, Se deu até à morte; por isso, Deus ressuscitou-O. Os discípulos, testemunhas desta dinâmica, devem anunciar este “caminho” a todos os homens.
O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes face à ressurreição: a do discípulo obstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida não podem nunca ser geradores de vida nova; e o discípulo ideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seu caminho e a sua proposta – a esse não o escandaliza nem o espanta que da cruz tenha nascido a vida plena, a vida verdadeira.
A segunda leitura convida os cristãos, revestidos de Cristo pelo Baptismo, a continuarem a sua caminhada de vida nova, até à transformação plena que acontecerá quando, pela morte, tivermos ultrapassado a última fronteira da nossa finitude.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Itinerário Quaresmal - Domingo de Ramos

Domingo de Ramos: Chamados ao sofrimento para salvar

 

Leituras do Domingo de Ramos:

Is.50,4-7; Fil.2,6-11; Lc.22,14 - 23,56

 

Porquê o sofrimento? Podemos fazer-nos esta pergunta um milhão de vezes, mas jamais a nossa razão se conformará com a resposta… Todos fugimos do sofrimento e, no entanto, ele faz parte da nossa condição. Simplesmente porque somos humanos… Não nascemos para sofrer, mas o sofrimento pode tornar-nos mais pessoas, mais maduros, mais compreensivos e solidários, mais… humanos!...

Neste Domingo de Ramos, somos convidados a contemplar o sofrimento. O nosso, como caminho de libertação; o dos outros, como caminho de solidariedade, de fraternidade; o de Cristo, como processo de salvação.

Quando a razão não entende, confina-se ao silêncio…

Entramos na semana do silêncio, da contemplação, entramos no tempo onde o sofrimento faz sentido porque é amor doado…

Iniciamos o tempo em que a cruz se faz princípio de ressurreição!

1.  Vamos escutar o Evangelho que a Liturgia nos propõe (Lc.22,14 - 23,56)

Quando chegou a hora, pôs-se à mesa e os Apóstolos com Ele. Disse-lhes: «Tenho ardentemente desejado comer esta Páscoa convosco, antes de padecer, pois digo-vos que já não a voltarei a comer até ela ter pleno cumprimento no Reino de Deus.» Tomando uma taça, deu graças e disse: «Tomai e reparti entre vós, pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até chegar o Reino de Deus.» Tomou, então, o pão e, depois de dar graças, partiu-o e distribuiu-o por eles, dizendo: «Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós; fazei isto em minha memória.» Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós.»«No entanto, vede: a mão daquele que me vai entregar está comigo à mesa! O Filho do Homem segue o seu caminho, como está determinado; mas ai daquele por meio de quem vai ser entregue!» Começaram a perguntar uns aos outros qual deles iria fazer semelhante coisa.Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles devia ser considerado o maior. Jesus disse-lhes: «Os reis das nações imperam sobre elas e os que nelas exercem a autoridade são chamados benfeitores. Convosco, não deve ser assim; o que fôr maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. Pois, quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve. Vós sois os que permaneceram sempre junto de mim nas minhas provações, e Eu disponho do Reino a vosso favor, como meu Pai dispõe dele a meu favor, a fim de que comais e bebais à minha mesa, no meu Reino. E haveis de sentar-vos, em tronos, para julgar as doze tribos de Israel.» E o Senhor disse: «Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.» Ele respondeu-lhe: «Senhor, estou pronto a ir contigo até para a prisão e para a morte.» Jesus disse-lhe: «Eu te digo, Pedro: o galo não cantará hoje sem que, por três vezes, tenhas negado conhecer-me.» Depois, acrescentou: «Quando vos enviei sem bolsa, nem alforge, nem sandálias, faltou-vos alguma coisa?» Eles responderam: «Nada.» E Ele acrescentou: «Mas agora, quem tem uma bolsa que a tome, assim como o alforge, e quem não tem espada venda a capa e compre uma. Porque, digo-vo-lo Eu, deve cumprir-se em mim esta palavra da Escritura: Foi contado entre os malfeitores. Efectivamente, o que me diz respeito chega ao seu termo.» Disseram-lhe eles: «Senhor, aqui estão duas espadas.» Mas Ele respondeu-lhes: «Basta!» Saiu então e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. Quando chegou ao local, disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» Depois afastou-se deles, à distância de um tiro de pedra, aproximadamente; e, pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.» Então, vindo do Céu, apareceu-lhe um anjo que o confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. Depois de orar, levantou-se e foi ter com os discípulos, encontrando-os a dormir, devido à tristeza. Disse-lhes: «Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.» Ainda Ele estava a falar quando surgiu uma multidão de gente. Um dos Doze, o chamado Judas, caminhava à frente e aproximou-se de Jesus para o beijar. Jesus disse-lhe: «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?» Vendo o que ia suceder, aqueles que o cercavam perguntaram-lhe: «Senhor, ferimo-los à espada?» E um deles feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus interveio, dizendo: «Basta, deixai-os.» E, tocando na orelha do servo, curou-o. Depois, disse aos que tinham vindo contra Ele, aos sumos sacerdotes, aos oficiais do templo e aos anciãos: «Vós saístes com espadas e varapaus, como se fôsseis ao encontro de um salteador! Estando Eu todos os dias convosco no templo, não me deitastes as mãos; mas esta é a vossa hora e o domínio das trevas.» Apoderando-se, então, de Jesus, levaram-no e introduziram-no em casa do Sumo Sacerdote. Pedro seguia de longe.Tendo acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se e Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: «Este também estava com Ele.» Mas Pedro negou-o, dizendo: «Não o conheço, mulher.» Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: «Tu também és dos tais.» Mas Pedro disse: «Homem, não sou.» Cerca de uma hora mais tarde, um outro afirmou com insistência: «Com certeza este estava com Ele; além disso, é galileu.» Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes.» E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes.»  E, vindo para fora, chorou amargamente. Entretanto, os que guardavam Jesus troçavam dele e maltratavam-no. Cobriam-lhe o rosto e perguntavam-lhe: «Adivinha! Quem te bateu?» E proferiam muitos outros insultos contra Ele. Quando amanheceu, reuniu-se o Conselho dos anciãos do povo, sumos sacerdotes e doutores da Lei, que o levaram ao seu tribunal. Disseram-lhe: «Declara-nos se Tu és o Messias.» Ele respondeu-lhes: «Se vo-lo disser, não me acreditareis e, se vos perguntar, não respondereis. Mas doravante, o Filho do Homem vai sentar-se à direita de Deus todo-poderoso.» Disseram todos: «Tu és, então, o Filho de Deus?» Ele respondeu-lhes: «Vós o dizeis; Eu sou.» Então, exclamaram: «Que necessidade temos já de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca.»

Levantando-se todos, levaram-no a Pilatos e começaram a acusá-lo, nestes termos: «Encontrámos este homem a sublevar o povo, a impedir que se pagasse tributo a César e a dizer-se Ele próprio o Messias-Rei.» Pilatos interrogou-o: «Tu és o rei dos judeus?» Jesus respondeu: «Tu o dizes.» Pilatos disse, então, aos sumos sacerdotes e à multidão: «Nada encontro de culpável neste homem.» Mas eles insistiram, dizendo: «Ele amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia até aqui.» Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu; e, ao saber que era da jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, que também se encontrava em Jerusalém nesses dias. Ao ver Jesus, Herodes ficou extremamente satisfeito, pois havia bastante tempo que o queria ver, devido ao que ouvia dizer dele, esperando que fizesse algum milagre na sua presença. Fez-lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu. Os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, que lá estavam, acusavam-no com veemência. Herodes, com os seus oficiais, tratou-o com desprezo e, por troça, mandou-o cobrir com uma capa vistosa, enviando-o de novo a Pilatos. Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois eram inimigos um do outro. Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes e o povo, e disse-lhes: «Trouxestes este homem à minha presença como se andasse a revoltar o povo. Interroguei-o diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes de que o acusais. Herodes tão-pouco, visto que no-lo mandou de novo. Como vedes, Ele nada praticou que mereça a morte. Vou, portanto, libertá-lo, depois de o castigar.» Ora, em cada festa, Pilatos era obrigado a soltar-lhes um preso. E todos se puseram a gritar: «A esse mata-o e solta-nos Barrabás!» Este último fora metido na prisão por causa de uma insurreição desencadeada na cidade, e por homicídio. De novo, Pilatos dirigiu-lhes a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam: «Crucifica-o! Crucifica-o!» Pilatos disse-lhes pela terceira vez: «Que mal fez Ele, então? Nada encontrei nele que mereça a morte. Por isso, vou libertá-lo, depois de o castigar.» Mas eles insistiam em altos brados, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Então, Pilatos decidiu que se fizesse o que eles pediam. Libertou o que fora preso por sedição e homicídio, que eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam. Quando o iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus. Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. Jesus voltou-se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; pois virão dias em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram.’ Hão-de, então, dizer aos montes: ‘Caí sobre nós!’ E às colinas: ‘Cobri-nos!’ Porque, se tratam assim a árvore verde, o que não acontecerá à seca?» E levavam também dois malfeitores, para serem executados com Ele. Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.»Depois, deitaram sortes para dividirem entre si as suas vestes.  O povo permanecia ali, a observar; e os chefes zombavam, dizendo: «Salvou os outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito.» Os soldados também troçavam dele. Aproximando-se para lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!» E por cima dele havia uma inscrição: «Este é o rei dos judeus.» Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também.» Mas o outro, tomando a pala- vra, repreendeu-o: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável.» E acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino.» Ele respondeu-lhe: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.» Por volta do meio-dia, as trevas cobriram toda a região até às três horas da tarde. O Sol tinha-se eclipsado e o véu do templo rasgou-se ao meio. Dando um forte grito, Jesus exclamou: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.» Dito isto, expirou. Ao ver o que se passava, o centurião deu glória a Deus, dizendo: «Verdadeiramente, este homem era justo!» E toda a multidão que se tinha aglomerado para este espectáculo, vendo o que acontecera, regressava batendo no peito. Todos os seus conhecidos e as mulheres que o tinham acompanhado desde a Galileia mantinham-se à distância, observando estas coisas.

Um membro do Conselho, chamado José, homem recto e justo, não tinha concordado com a decisão nem com o procedimento dos outros. Era natural de Arimateia, cidade da Judeia, e esperava o Reino de Deus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Descendo-o da cruz, envolveu-o num lençol e depositou-o num sepulcro talhado na rocha, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Era o dia da Preparação e já começava o sábado. Entretanto, as mulheres que tinham vindo com Ele da Galileia acompanharam José, observaram o túmulo e viram como o corpo de Jesus fora depositado. Ao regressar, prepararam aromas e perfumes; e, durante o sábado, observaram o descanso, conforme o preceito.

Sofrer para salvar



2. Jesus havia entrado decidido em Jerusalém. Tinha abraçado a vontade do Pai como projecto de vida. Sabia que sua missão consistia em salvar a humanidade, e a salvação passava pela dignificação da pessoa humana, pela denúncia de todas as opressões. Pusera-se ao lado dos sofridos e dos marginalizados, e isso era imperdoável aos olhos das autoridades. O seu dedo em riste havia sido duro demais! A sua língua afiada havia falado demais. A sua presença era demasiado incomodativa, um desfio constante... Nada mais lhe restava, senão a morte.

Jesus conhecia muito bem qual era o seu fim. Sabia que tinha ido longe de mais, que a sua determinação o levaria à morte.

3. Podia ter escapado... os seus amigos haviam-no aconselhado a não subir a Jerusalém. Mas sabia também que a cruz era parte da missão, era o seu desfecho mais certo…

- “Se o grão de trigo não morrer, como poderá dar fruto”?

- “A minha vida, ninguém ma tira: sou que a dou”

- “Não há maior prova da amor do que dar a vida por aquele que se ama”

Claro que o sofrimento lhe causa medo. O sangue, qual suor escorrendo pelo seu rosto é bem indício disso. Jesus não é nenhum herói, nem tão pouco um masoquista ansioso por sofrer:

- “Pai, afasta de mim este cálice, mas que se faça a tua vontade e não a minha”

Assume a cruz como missão que o Pai lhe confia em resgate de toda a humanidade.

É a expressão mais profunda do amor de Deus: o filho entregue em resgate dos servos. A humilhação e a morte como princípio de exaltação e de vida.

Enfrentou todos os sofrimentos, aceitou toda a espécie de tortura, submeteu-se à mais profunda de todas as humilhações: o Filho de Deus é traído, abandonado, sofrido, escravizado, negado, ridicularizado, assassinado. No seu corpo e na sua alma assumiu as mais degradantes situações a que uma pessoa humana pode ser submetida. O grande sofrido da História assume, concentra na sua pessoa, o sofrimento de toda a Humanidade em todos os tempos e situações. A todos encarna no seu sofrimento, como que mostrando a predilecção de Deus por cada pessoa, por cada desprezado, por cada sofrido. Deus sofre em cada sofrido, Deus morre por cada sofrido.

4. “Quando o conduziam, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para a levar atrás de Jesus”.

Ficou para a História, este Simão… A História não é feita só de agressões e opressões… é também feita de gesto solidários. Na hora do sofrimento até o Filho de Deus precisa de um Cireneu. Passara fazendo o bem; devolvera a vida e a dignidade a muitos; marcara presença ao lado dos sem vez e sem voz… agora era a sua vez de estender a mão para sentir a presença de alguém amigo: dor partilhada dói menos!...

5. “Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no…”

Da sua boca não sai um queixume, uma palavra de ressentimento, uma ameaça: no seu coração só há lugar para a aceitação, para a compreensão, para o perdão: “Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.

Quando se passou a vida fazendo o bem, quando se fez da vida um serviço e se gastaram as energias até à última gota, só resta o espírito… também esse, ele coloca nas mãos do Pai. Missão cumprida!

O véu do templo rasgou-se: o rosto de Deus foi revelado à humanidade. Agora podemos entender até onde vai o amor de Deus!...

Chamados a salvar

Entra no teu quarto e no meio do silêncio, contempla o Crucificado.

Diante dele, também nós precisamos aprender a viver de verdade.

ü  Quais o valores que orientam a tua vida?


ü 
Quais as seguranças do teu viver?

ü  Qual a tua missão?

Diante do Crucificado, também nós precisamos descobrir o amor de Deus na nossa vida

ü Ele se tornou um de nós para com sua vida resgatar a nossa dignidade, gerar libertação, oferecer salvação: estaremos nós dispostos a aceitar a vida que Ele nos oferece? Quereremos nós assumir na vida a atitude de Deus tornando-nos vida uns para os outros?

ü Seremos nós capazes de nos unir à paixão de Cristo para com Ele salvarmos o mundo?

 Diante do Crucificado, também nós precisamos aprender solidariedade, comunhão, fraternidade

ü Em cada pessoa que sofre é Ele que te estende a mão, partilhando a Sua dor, pedindo a tua compreensão, a tua presença amiga. Aceitas ser Cireneu na vida do teu irmão que sofre?


segunda-feira, 22 de março de 2010

Dia Jovem Diocesano - Testemunho




Foi no dia 20 de Março do corrente ano que em Lardosa - Alcaíns se realizou mais um Dia Jovem da nossa Diocese Portalegre- Castelo Branco.
O encontro teve início às 9h30 na Igreja Matriz de Lardosa, onde todos os grupos de jovens vindos dos vários pontos da diocese se reuniram e se deram a conhecer. Todos eles foram chamados a participar neste dia de festa, ao qual responderam com grande agrado e entusiasmo levando consigo a certeza de celebração de um Cristo que é jovem.
A chuva não foi impedimento para que a Oração da Manhã decorresse como previsto e se desse início à caminhada que ligaria as localidades de Lardosa e Alcaíns. A alegria, a música, o espírito jovem e a união de esforços foram cruciais para que os 10 kms não se fizessem notar.
Com maior ou menor resistência, todos atingiram o objectivo a que se propuseram - a chegada ao Seminário de Alcains -onde as energias gastas foram imediatamente recuperadas com o almoço partilhado entre todos. Assim se mostrou o altruísmo e espírito de união que caracterizam estes jovens a quem muitas vezes chamam de 'geração rasca'.
O convívio, a partilha de experiências foram ingredientes principais para que o encontro decorresse tão bem, fazendo-se notar também durante a tarde. No decorrer desta foi-nos dada a oportunidade de ver o que é a vida de alguém que se entrega total e incondicionalmente a Deus, através do Pe. Nuno e do Pe. Emanuel - padres da nossa diocese.
O dia não poderia findar sem a grande festa em Sua casa, à qual todos somos chamados. Assim, por volta das 16h30 foi celebrada a Eucaristia na Igreja Matriz de Alcaíns presidida pelo Sr. Bispo D. Antonino e animada pelo Movimento Encontros de Jovens Shalom.
Se agora me questionarem sobre o que é ser um jovem cristão aqui em Castelo Branco eu digo que é das melhores coisas do Mundo, pois sei que não estou sozinha e isso dá força para que todo o meu trabalho e empenho continuem.
Desde já aproveito para agradecer a todos os que prepararam este dia, a todos aqueles que contribuiram para que ele jamais seja esquecido. Àqueles que nele participaram, os meus parabéns, o dom de cada um de certo que fez a diferença!


Margarida Barbudo (SP S. Miguel da Sé)


"Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no oceano. Mas ele seria menor se lhe faltasse uma gota." (Madre Teresa de Calcutá)