sábado, 26 de março de 2011

Café-Concerto - 2 Abril


Receitas revertem a favor do Retiro de Preparação para o Crisma (Paróquia de Nossa Senhora de Fátima)

terça-feira, 15 de março de 2011

Encontro Inicial de São Miguel da Sé


"Jovens evangelizam jovens"
Poderia ser este o nome do encontro que teve lugar nos dias 11, 12 e 13 de Março nas instalações de S. Tiago (paróquia de S. Miguel da Sé). Foram 15 os jovens que se deixaram interpelar pelo Cristo jovem, radical, dinâmico, que nos apela a colocar os nossos dons ao serviço da Igreja. Três dias de intenso trabalho onde falámos sobre Cristo o nosso irmão, Evangelho na Vida, como Viver em Igreja, o Reencontro com Cristo ou Juventude e Compromisso Cristão. A paróquia de S. Miguel da Sé conta agora com 2 grupos de jovens prontos a sujarem as mãos na realidade e chamarem, cada vez mais jovens, à vocação leiga.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quaresma 2011

É o tempo da Quaresma, ou se quisermos, o grande Retiro da Igreja. Quarenta dias que nos irão preparar para as grandes festas da Páscoa, centro da fé cristã.
Queremos propor uma caminhada quaresmal em Movimento que, a um tempo, nos prepare e leve ao encontro com o Ressuscitado de uma forma profunda, mas também criativa e dinâmica.
Para este ano pastoral escolhemos a tónica da 'Pertença'. Se tivermos em conta que a Quaresma é uma caminhada catecumenal que nos prepara e conduz até à Celebração do Baptismo (Vigília Pascal) e que o Baptismo consiste nesse mergulhar em Cristo, no seu mistério pascal, traduzido na renovação das promessas baptismais (a pertença a Cristo), então faz sentido aprofundarmos nesta Quaresma o sentido da pertença.
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segunda-feira, 7 de março de 2011

III Encontro Inicial - São Miguel da Sé


Nos próximos dias 11, 12 e 13 de Março o grupo de Pré-Encontro de S. Miguel da Sé realizará o seu Encontro Inicial no espaço de S. Tiago.

Este encontro marca a entrada definitiva de cada jovem para o Movimento Encontros de Jovens Shalom.

Nele os jovens vivenciam e testemunham o Cristianismo de uma forma autêntica e incarnada na realidade de cada um. O Encontro Inicial pretende ainda proporcionar aos jovens a descoberta de um Cristo diferente, Jovem e Amigo, que desperte neles um espírito vivo de acção transformadora na sociedade actual.

Desde já convidamos todos a connosco fazerem festa na Eucaristia de Encerramento no próximo domingo, às 18h30, na Igreja de S. Tiago.

Mensagem de D. Antonino Dias para a Quaresma de 2011

O Santo Padre Bento XVI convida-nos a ligar “o Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva”. Gostaria que a sua Mensagem fosse distribuída nas comunidades e servisse de pano de fundo, pretexto e estímulo para as catequeses quaresmais aos fiéis da nossa Diocese. Catequeses positivas e doutrinais. São muitos os baptizados que não praticam. É grande a falta de catequese sobre este Sacramento em muitos daqueles que frequentam a Igreja. Abundam os problemas pastorais por falta de esclarecimento e formação. Por isso, não faltam temas a abordar e reflexão a fazer.


A Igreja celebra e administra o Baptismo desde o dia do Pentecostes. “Irmãos, que devemos fazer?”, perguntaram os ouvintes de Pedro, galvanizados pela eloquência do seu discurso em que denunciava, de forma vigorosa e convincente, a injustiça da crucifixão de Jesus, que Deus ressuscitara, tornando-O Senhor e Cristo. E Pedro responde: “Convertei-vos e peça cada um de vós o Baptismo em nome de Jesus Cristo, para vos serem perdoados os pecados. Recebereis então o dom do Espírito Santo” (Act 2, 38). Pedro denuncia a tragédia da morte de Cristo e anuncia a Boa Nova da sua Ressurreição. A sua Palavra é acolhida e acreditam em Jesus Cristo. Convertem-se e professam a fé. Recebem o Baptismo e o dom do Espírito Santo. Têm acesso à Eucaristia e Cristo passa a ser o centro da sua vida pessoal. Juntos, frequentam o templo e a Fracção do Pão (Eucaristia). Louvam a Deus e partilham os seus bens. Geram simpatia, são amados pelo povo e todos os dias o Senhor acrescenta à comunidade outras pessoas que aceitam a salvação (cf. Act 46, 47).

AGRADECER E VIVER EM FIDELIDADE

A Constituição sobre a Sagrada Liturgia lembra-nos que “Pelo baptismo são os homens inseridos no mistério pascal de Cristo: mortos com Ele, sepultados com Ele, com Ele ressuscitados; recebem o espírito de adopção filial que “nos faz clamar: Abba, Pai” (Rom 8, 15), transformando-se assim nos verdadeiros adoradores que o Pai procura”(SC 6). Por mais longa que seja a nossa vida, é sempre muito curta para agradecermos a Graça do Baptismo, percebermos os seus efeitos e aceitarmos as suas consequências.

A Quaresma convida-nos, pois, a avivar a riqueza do nosso Baptismo e a sermos fiéis à Graça de Deus. Como refere Bento XVI, o nosso imergir “na morte e ressurreição de Cristo através do sacramento do Baptismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a “terra”, que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo”.

PALAVRA E ORAÇÃO, JEJUM E PARTILHA

O Santo Padre recorda-nos, também ele, a necessidade das práticas antigas, sempre actuais, que constituem o material a que temos de deitar mão no itinerário quaresmal. Assim, tal caminhada não pode dispensar a escuta e o acolhimento da PALAVRA DE DEUS que “alimenta o caminho da fé que iniciámos no dia do Baptismo”; o JEJUM que “tornando mais pobre a nossa mesa” nos ensina “a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor”; a PARTILHA que “é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia”; a ORAÇÃO, “para entrar naquela comunhão íntima com Deus que ninguém nos poderá tirar e que nos abre à esperança que não desilude”. A Quaresma “educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo”, leva-nos a “redescobrir o nosso Baptismo”, a fazer “uma conversão profunda da nossa vida”, a “deixar-se transformar pela acção do Espírito Santo”, a “orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus”, a “libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo”, a “reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo”. Deixando-nos perdoar, aprendemos também “a perdoar aos outros; reconhecendo a minha miséria, também me torno mais tolerante e compreensivo com as fraquezas do próximo”.

SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO

Apelando aos Sacerdotes para que dêem o melhor do seu tempo ao atendimento das pessoas no Sacramento da Confissão, recordo, para todos nós, o que dizia o Cardeal Arcebispo de Colónia numa conferência sobre conversão e missão: “Ter negligenciado o Sacramento da Penitência é a raiz de muitos males na vida da Igreja e na vida do sacerdote. E a chamada crise do Sacramento da Penitência não se deve apenas ao facto de as pessoas terem deixado de se confessar, mas também ao facto de nós, sacerdotes, já não estarmos presentes no confessionário. Um confessionário em que um sacerdote está presente, numa igreja vazia, é o símbolo mais tocante da paciência de Deus que espera. É assim que é Deus. Ele nos espera a vida inteira”.

Os próprios confessionários, que muitas igrejas, em nome da estética, esconderam ou deitaram fora, deixaram eles mesmos de ser um sinal catequético, pedagógico e interpelativo. Gostaria que, mesmo assim, alguns a darem nas vistas porque inestéticos, regressassem aos seus lugares como, aliás, a Igreja nos manda, para serem utilizados dentro da liberdade de escolha dos filhos de Deus (cân. 964). São sinais. A conversão também passará por aí.

VAMOS AJUDAR DOIS JOVENS

Para além da presença da Cáritas Diocesana junto de famílias do Concelho da Sertã que foram atingidas pelo vendaval passado, este ano destinaremos também a nossa partilha diocesana (Renúncia Quaresmal) – através da Cáritas Diocesana - para criar condições habitacionais para dois jovens que, por acidentes, ficaram totalmente dependentes. Visitei-os em suas casas na Visita Pastoral. Se a sua situação física não é boa, é grande a sua força de viver. Pior se torna a sua qualidade de vida pelas condições do espaço em que vivem. Um é do concelho de Proença-a-Nova. Outro, do concelho de Portalegre. A ajuda a prestar é vária, desde a oferta do possível estudo e projecto, aos materiais e mão-de-obra. Vamos ajudar com a nossa partilha, sentindo-nos irmãos e solidários em Cristo Jesus que “passou pelo mundo fazendo o bem”.

+Antonino Dias

Bispo de Portalegre-Castelo Branco

04/03/2011

terça-feira, 1 de março de 2011

Mensagem de Bento XVI para a Quaresma 2011

«Sepultados com Ele no baptismo, foi também com Ele que ressuscitastes» (cf. Cl 2, 12)

Amados irmãos e irmãs!

A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é para a Igreja um tempo litúrgico muito precioso e importante, em vista do qual me sinto feliz por dirigir uma palavra específica para que seja vivido com o devido empenho. Enquanto olha para o encontro definitivo com o seu Esposo na Páscoa eterna, a Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade laboriosa, intensifica o seu caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor (cf. Prefácio I de Quaresma).

1. Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Baptismo, quando, «tendo-nos tornado partícipes da morte e ressurreição de Cristo» iniciou para nós «a aventura jubilosa e exaltante do discípulo» (Homilia na Festa do Baptismo do Senhor, 10 de Janeiro de 2010). São Paulo, nas suas Cartas, insiste repetidas vezes sobre a singular comunhão com o Filho de Deus realizada neste lavacro. O facto que na maioria dos casos o Baptismo se recebe quando somos crianças põe em evidência que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias forças. A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na própria existência «os mesmos sentimentos de Jesus Cristo» (Fl 2, 5), é comunicada gratuitamente ao homem.

O Apóstolo dos gentios, na Carta aos Filipenses, expressa o sentido da transformação que se realiza com a participação na morte e ressurreição de Cristo, indicando a meta: que assim eu possa «conhecê-Lo, a Ele, à força da sua Ressurreição e à comunhão nos Seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos» (Fl 3, 10-11). O Baptismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do baptizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo.

Um vínculo particular liga o Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II convidaram todos os Pastores da Igreja a utilizar «mais abundantemente os elementos baptismais próprios da liturgia quaresmal» (Const. Sacrosanctum Concilium, 109). De facto, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Baptismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11). Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem o Baptismo como um acto decisivo para toda a sua existência.

2. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus? Por isso a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é baptizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele.

O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição do homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso» (Hb 6, 12), no qual o diabo é activo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal.

O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.

O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho.

O domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: «Tu crês no Filho do Homem?». «Creio, Senhor» (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como «filho da luz».

Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: «Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto?» (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: «Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27). A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos e a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança.

O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas baptismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos «da água e do Espírito Santo», e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à acção da Graça para sermos seus discípulos.

3. O nosso imergir-nos na morte e ressurreição de Cristo através do Sacramento do Baptismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a «terra», que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo. Em Cristo, Deus revelou-se como Amor (cf 1 Jo 4, 7-10). A Cruz de Cristo, a «palavra da Cruz» manifesta o poder salvífico de Deus (cf. 1 Cor 1, 18), que se doa para elevar o homem e dar-lhe a salvação: amor na sua forma mais radical (cf. Enc. Deus caritas est, 12). Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31).

No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha. A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida. Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projectos, com os quais nos iludimos de poder garantir o futuro? A tentação é a de pensar, como o rico da parábola: «Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos...». «Insensato! Nesta mesma noite, pedir-te-ão a tua alma...» (Lc 12, 19-20). A prática da esmola é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia.

Em todo o período quaresmal, a Igreja oferece-nos com particular abundância a Palavra de Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver quotidianamente, aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciámos no dia do Baptismo. A oração permite-nos também adquirir uma nova concepção do tempo: de facto, sem a perspectiva da eternidade e da transcendência ele cadencia simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro. Ao contrário, na oração encontramos tempo para Deus, para conhecer que «as suas palavras não passarão» (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela comunhão íntima com Ele «que ninguém nos poderá tirar» (cf. Jo 16, 22) e que nos abre à esperança que não desilude, à vida eterna.

Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, é «fazer-se conformes com a morte de Cristo» (Fl 3, 10), para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela acção do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.

Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Baptismo. Renovemos nesta Quaresma o acolhimento da Graça que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas acções. Tudo o que o Sacramento significa e realiza, somos chamados a vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e autêntico. Neste nosso itinerário, confiemo-nos à Virgem Maria, que gerou o Verbo de Deus na fé e na carne, para nos imergir como ela na morte e ressurreição do seu Filho Jesus e ter a vida eterna.

BENEDICTUS PP XVI

(tradução oficial do Vaticano)