Quarta Semana: Chamados à misericórdia
Leituras do 4º Domingo da Quaresma:
Jos.5,9a.10-12; 2Cor.5,17-21; Lc.15,1-3.11-32
1. Estamos exactamente a meio da Quaresma e se esta é um caminho que tem como ponto de chegada a Páscoa e, portanto, nos faz reflectir o sentido do ser cristão, então podemos dizer que, neste domingo, nos encontramos no centro da fé cristã.
Na primeira Carta de João, há duas frases que são chave: “Amemo-nos uns aos outros porque o amor vem de Deus… quem não ama não conhece a Deus porque Deus é amor” e ainda: “Como podes amar a Deus que não vês se não amas o teu irmão que vês?”
Neste domingo, Jesus convida-nos a pormos de lado a fé intimista e a aprendermos de Seu Pai o amor e a misericórdia. Quaresma é isso: tempo de olharmos o outro como próximo, o próximo como irmão...
2. Vamos escutar o Evangelho que a Liturgia nos propõe (Lc.15,1-3.11-32)
Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem. Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.» Jesus propôs-lhes, então, esta parábola: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.’ E o pai repartiu os bens entre os dois. Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações. Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E, caindo em si, disse: ‘Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.’ E, levantando-se, foi ter com o pai. Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos. O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.’ Mas o pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.’ E a festa principiou. Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. Disse-lhe ele: ‘O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.’ Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. Respondendo ao pai, disse-lhe: ‘Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.’ O pai respondeu-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.’»
Chamados à misericórdia
3. Quando escutamos as parábolas de Jesus ficamos muitas vezes com a sensação de que alguma coisa não joga bem. Acontece isso na parábola do ‘administrador infiel’ onde nos dá a sensação de que Jesus elogia a corrupção; na da ‘ovelha perdida’ onde nos interrogamos se é justo deixar as noventa e nove por causa de uma, etc. Na verdade Jesus usa as parábolas para nos fazer entender algo mais sem se preocupar muito com a coerência dos pormenores. Nesta é diferente: nela tudo faz sentido e parece que quanto mais olhamos os seus pormenores mais questionamentos colocamos à nossa vida.
Parábola do Filho Pródigo ou Parábola do Pai Misericordioso?
Se atendermos à figura central do texto não podemos deixar de reconhecer um Pai bondoso, acolhedor e compreensivo, que não pode ser outro senão o Deus de Jesus Cristo.
A história de Jesus tem como destinatários, não tanto os pecadores (vistos como desprezíveis e motivo de vergonha pelos fariseus e legistas), de quem Jesus se faz companheiro (come com eles...), como visa especialmente os críticos desta atitude: homens crentes, fervorosos e zelosos da fé, sem dúvida, mas incapazes de captar, nos gestos e atitudes de Jesus, a expressão da essência de Deus, o amor incondicional.
Ao contar-lhes esta parábola, Jesus convida-os a ultrapassarem os limites do conceito de Deus que se impuseram e a reconhecerem na pessoa de Jesus e seus actos, o mistério de Deus que se revela.
Jesus faz isso apresentando três retratos correspondendo cada um deles a uma atitude diferente:
O retrato do filho mais novo:
Um jovem sonhador deixa-se levar pela rebeldia da idade e resolve empreender, sozinho, a aventura de viver. Há nele uma ânsia de liberdade, de cortar as amarras, de sair da rotina. Está cansado de depender do pai, quer ser o dono da sua vida, construir, ao seu jeito, a felicidade. Exige dinheiro ao pai e parte para uma terra distante. É interessante esta referência a uma 'terra distante' e que expressa afastamento (sobretudo afectivo) do Pai. Aí, dissipa todos os bens e cai na miséria mais degradante: sem ganhar sequer para comer põe-se ao serviço de um homem que o manda guardar os porcos. Ao frisar o tipo de trabalho, o evangelista pretende deixar bem clara a degradação mais humilhante a que leva a ausência do amor: o porco é por excelência, para o judeu o animal impuro; cuidar dos porcos, a que se junta a referência de nem sequer poder comer as alfarrobas "porque ninguém lhas dava", é situar-se abaixo dos porcos. Mas é a partir desta humilhação que experimenta Se atendermos à figura central do texto não podemos deixar de reconhecer um Pai bondoso, acolhedor e compreensivo, que não pode ser outro senão o Deus de Jesus Cristo.
A história de Jesus tem como destinatários, não tanto os pecadores (vistos como desprezíveis e motivo de vergonha pelos fariseus e legistas), de quem Jesus se faz companheiro (come com eles...), como visa especialmente os críticos desta atitude: homens crentes, fervorosos e zelosos da fé, sem dúvida, mas incapazes de captar, nos gestos e atitudes de Jesus, a expressão da essência de Deus, o amor incondicional.
Ao contar-lhes esta parábola, Jesus convida-os a ultrapassarem os limites do conceito de Deus que se impuseram e a reconhecerem na pessoa de Jesus e seus actos, o mistério de Deus que se revela.
Jesus faz isso apresentando três retratos correspondendo cada um deles a uma atitude diferente:
O retrato do filho mais novo:
Um jovem sonhador deixa-se levar pela rebeldia da idade e resolve empreender, sozinho, a aventura de viver. Há nele uma ânsia de liberdade, de cortar as amarras, de sair da rotina. Está cansado de depender do pai, quer ser o dono da sua vida, construir, ao seu jeito, a felicidade. Exige dinheiro ao pai e parte para uma terra distante. É interessante esta referência a uma 'terra distante' e que expressa afastamento (sobretudo afectivo) do Pai. Aí, dissipa todos os bens e cai na miséria mais degradante: sem ganhar sequer para comer põe-se ao serviço de um homem que o manda guardar os porcos. Ao frisar o tipo de trabalho, o evangelista pretende deixar bem clara a degradação mais humilhante a que leva a ausência do amor: o porco é por excelência, para o judeu o animal impuro; cuidar dos porcos, a que se junta a referência de nem sequer poder comer as alfarrobas "porque ninguém lhas dava", é situar-se abaixo dos porcos. Mas é a partir desta humilhação que experimenta 5. Partilha a tua reflexão com alguém que te seja próximo (família, amigo, grupo) ou …talvez seja o momento de procurares um sacerdote para celebrares a Reconciliação…
6. Salmo 25
Para ti, Senhor, elevo o meu espírito.
Meu Deus, em ti confio: não seja confundido,
nem escarneçam de mim os inimigos.
Pois os que esperam em ti não serão confundidos; mas sejam confundidos os que atraiçoam sem motivo.
Mostra-me, Senhor, os teus caminhos e ensina-me as tuas veredas.
Dirige-me na tua verdade e ensina-me, porque Tu és o Deus meu salvador.
Em ti confio sempre. Lembra-te, Senhor, da tua compaixão e do teu amor, pois eles existem desde sempre.
Não recordes os meus pecados de juventude e os meus delitos. Lembra-te de mim, Senhor, pelo teu amor e pela tua bondade.
O Senhor é bom e justo; por isso ensina o caminho aos pecadores, guia os humildes na justiça e dá-lhes a conhecer o seu caminho.
Todos os caminhos do Senhor são amor e fidelidade, para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos.
Por amor do teu nome, Senhor,
perdoa o meu pecado, pois é muito grande.
Quem é o homem que teme ao Senhor?
Ele lhe ensinará o caminho a seguir.
A sua vida decorrerá feliz, e os seus descendentes possuirão a terra. O Senhor comunica os seus segredos aos que o temem e dá-lhes a conhecer a sua aliança.
Os meus olhos estão sempre postos no Senhor, porque Ele tira os meus pés da armadilha. Volta-te para mim, Senhor, e tem compaixão, porque me encontro só e abandonado.
Afasta as angústias do meu coração e livra-me das minhas angústias. Vê a minha miséria e o meu sofrimento e perdoa todos os meus pecados.
Vê como são numerosos os meus inimigos e como sentem por mim um ódio implacável. Guarda a minha vida e salva-me.
Eu confio em ti, não me deixes ficar envergonhado. Que a honestidade e a rectidão me protejam, pois em ti confiei. Ó Deus, livra Israel de todas as suas angústias!
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