Terceira Semana: Chamados à conversão
Leituras do 3º Domingo da Quaresma:
Ex.3,1-8a.13.15; ICor.10,1-6.10-12; Lc.13,1-9
1. A Quaresma é por excelência o tempo da conversão.
Muitas vezes a entendemos como penitência, renúncia, austeridade… Mas será mesmo este o sentido de conversão? Talvez possamos ir mais fundo. Se partirmos das Escrituras, no Antigo e no Novo Testamentos, poderemos entendê-la como fruto da experiência de Deus. O profeta Joel deixa-nos isso muito claro quando nos convida a reconhecermos que “Deus é bom e compassivo, clemente e misericordioso”.
S. Paulo vai mais longe quando nos coloca a conversão como um movimento que parte de Deus: “quando éramos inimigos, Deus nos amou primeiro” (Rm.5,8). E ainda: “Aquele que não havia conhecido pecado, Deus o fez pecado por nós para que nos tornássemos nele justiça de Deus”.
Todo o Evangelho de Lucas é um hino à misericórdia de Deus. Isso faz-nos sentir aceites, amados e perdoados por Deus, apesar de nossa miséria. É o reconhecimento deste amor incondicional que nos leva a fazer opção por Deus.
Converter-se é ‘voltar-se para’, ‘olhar em determinada direcção’, ‘olhar com’, fazer convergir o nosso olhar na direcção em que Deus olha...
A conversão possui um dinamismo de alegria, de libertação, de imensa gratuidade
É diferente de assumir um ar sombrio, triste... é como lavar o rosto, perfumar a cabeça, encher-se de alegria...
Não é, então, rezar quando antes não se rezava... ir à missa quando não se ia...
Conversão implica: novas convicções; novos valores; novas prioridades.
É o processo que me faz arrancar de mim tudo o que não é autêntico, o que não está em conformidade com o Evangelho e a plantar um novo estilo de vida; uma nova postura frente ao mal, ao pecado; um agir mais que dizer...
2. Vamos escutar o Evangelho que a Liturgia nos propõe: Lc.13,1-9
Nessa ocasião, apareceram alguns a falar-lhe dos galileus, cujo sangue Pilatos tinha misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam. Respondeu-lhes:«Julgais que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus, por terem assim sofrido?
Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente.
E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé, matando-os, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém?
Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.»
Disse-lhes, também, a seguinte parábola: «Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi lá procurar frutos, mas não os encontrou. Disse ao encarregado da vinha: ‘Há três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não o encontro. Corta-a; para que está ela a ocupar a terra?’ Mas ele respondeu: ‘Senhor, deixa-a mais este ano, para que eu possa escavar a terra em volta e deitar-lhe estrume. Se der frutos na próxima estação, ficará; senão, poderás cortá-la.’»
Chamados à conversão
3. O Evangelho deste domingo convida-nos a fazermos a experiência da misericórdia:
Na primeira parte, Jesus é confrontado com a revolta e perplexidade das pessoas que lhe narram a execução, a mando de Pilatos, dum grupo de galileus que ofereciam sacrifícios no templo. Mais uma prepotência do poder romano que pode ser lida de duas maneiras: uma, sinal da escravatura de Israel por parte de Roma; outra, a proclamação da divindade de César que se sobrepunha ao poder do Senhor Deus de Israel.. Era, sem dúvida, uma situação melindrosa e Jesus percebe as consequências disso: fomentar a revolta provocaria uma carnificina ainda maior... prefere, então, manter a tranquilidade e evitar fanatismos.
Os ensinamentos que Jesus recolhe do sucedido são bem expressão da comunhão/experiência de Deus: a morte violenta (provocada por mão humana ou por cataclismos) não é consequência dos pecados das pessoas e, portanto, não pode ser entendida como castigo de Deus. Mas pode também ser fruto da falta de critérios, da não adesão ao projecto de Deus. Daí o seu apelo à conversão, à mudança de vida...
E para deixar isso mais claro, para mostrar as razões da necessidade de conversão, Jesus usa, na segunda parte do texto, a ‘parábola da figueira’. Pretenderá Jesus alertar-nos para o castigo que virá se não nos convertermos e não produzirmos bons frutos? Ao contrário: Jesus apela à nossa conversão, não por medo do castigo mas a partir da experiência da misericórdia de Deus que é paciente e sabe esperar...
O Senhor é paciente e cheio de misericórdia…
Pára um instante. Olha para a tua vida e percebe nela alguns momentos em que sentiste o abraço carinhoso de Deus… Deus ama-te…
- O que me impede de me deixar abraçar por Deus? Que resistências sinto?
4. A Quaresma é o tempo da conversão. O tempo de entrarmos no deserto para aí, conduzidos pela mão carinhosa do Pai, fazermos a experiência do seu amor. E só quando se experimenta o seu amor se pode captar a direcção do seu olhar. Deixar-nos envolver pelo seu amor, olhar na direcção de Deus, deixar-nos cativar pelo seu olhar bondoso para olharmos na mesma direcção que Ele, esse é desafio que o Senhor nos apresenta neste tempo de preparação para a Pascoa...
- Que apelos percebo que Deus me faz nesta Quaresma? Que passos preciso dar? Em que direcção preciso orientar o meu olhar para sintonizar com o olhar de Deus?
- Que desafios se me colocam nesta Quaresma?
5. Partilha a tua reflexão com alguém que te seja próximo (familiar, amigo, grupo…)
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